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Relatório parcial de estudo de autenticidade de pintura óleo sobre tela de Gerrit van Honthorst

  • Foto do escritor: ArtChimica
    ArtChimica
  • 16 de dez. de 2017
  • 7 min de leitura

(por ArtChimica)


Um estudo de autenticidade de uma obra de arte, ou perícia de uma obra de arte, pode ser bastante trabalhoso e exaustivo. A cada etapa do planejamento inicial que se realiza, novas dúvidas e preposições surgem e normalmente o trabalho ou planejamento inicial é totalmente revisto e direcionado em função disso.

O relatório abaixo apresentado refere-se a um trabalho realizado há alguns anos. A forte evidência que se tratava de pintura importante, devido à sua procedência, motivou a realização da perícia. Tratava-se de pintura encontrada debaixo de um altar de uma antiga capela em uma fazenda que pertencia a descendentes do Barão de Mauá. o fato em si sugeria tratar-se de peça especial e de valor. Mas esse é assunto de outro relatório.

Os estudos abaixo apresentados abaixo são de radiografia por raios-X, fluorescência de raios-X, fluorescência no ultravioleta e fotografia no infravermelho. Posteriormente realizou-se datação por carbono 14. Como os resultados eram promissores planejou-se ensaio de datação baseada na radioatividade natural do branco de chumbo encontrado por toda a pintura (dados no relatório final que postaremos em breve).

Verdade seja dita, em relação à perícia de obras de arte, a autenticidade de uma obra interessa muito mais por razões históricas do que de mercado...


1. INTRODUÇÃO

Neste relatório parcial relata-se os trabalhos que foram realizados para o estudo da composição de materiais de uma pintura de óleo sobre tela atribuída ao mestre holandês Gerrit Van Honthorst. Para a geração dos dados analíticos foram utilizadas as técnicas de Radiografia de raios-X, Análise elementar por fluorescência de raios-X (FRX), análise microscópica, análise visual por luz ultravioleta e datação radiocarbonica do suporte de tela (Carbono 14).


2. DADOS BIOGRÁFICOS E TÉCNICOS DO ARTISTA E DA OBRA

Breve biografia do artista

Gerrit Van Honthorst (1592 a 1656), também conhecido como Gherardo della Notte, foi um pintor holandês de Utrecht. Honthorst veio de uma família de artistas. Se avô foi uma espécie de presidente da associação de pintores de Utrecht no período em torno de 1579 e seu pai, Herman Gerritsz segui o mesmo em 1611.

O jovem Gerrit van Honthorst recebeu sua educação artística formal de Abraham Bloemaert (1564-1651). Foi sob sua tutela que ele aprendeu os princípios da pintura. Bloemaert, de certa forma, era o “pai” da Escola de Pintura de Utrecht. Na primeira década do século XVII, Bloemaert desenvolveu uma técnica de maior realismo que culminou claramente em um estilo clássico por vota de 1612 como pode ser observado na pintura “Adoração dos Pastores”. Provavelmente isso influenciou profundamente o estilo que Honthorst desenvolveria dali para a frente.



Honthorst foi para a Itália em 1610 ou 1612, onde ele copiou o naturalismo e excentricidades de Michelangelo da Caravaggio. Voltou para sua cidade natal em 1620, depois de adquirir uma prática considerável em Roma. Ele montou uma escola em Utrecht e junto com seu colega Hendrick ter Brugghen, ele representou o chamado Dutch Caravaggisti.

É possível que Honthorst já conhece-se e admirasse a obra de Caravaggio antes mesmo de sua viagem à Itália. O realismo, o naturalismo e o uso dramático de luz artificial, que foram os pilares de sua obra, eram baseados no estilo de Caravaggio e este por sua vez nao era desconhecido dos pintores holandeses.


Dados técnicos e históricos da obra “The Adoration of the shepherds”



Dados técnicos:

. Óleo sobre tela: 198,5 x 338,5cm,

. Não assinado,

. Pintado em Roma em 1620

. O menino Jesus repousa sobre uma peça de tecido em uma manjedoura de madeira e palha. Ele irradia uma Luz Sagrada que ilumina a cena. À direita, Maria ajoelhada segura a peça de tecido e em pé atrás Dela, esta José. À esquerda da Virgem Maria, um pastor olha outros três em pé. Quatro pequenos anjos circundam a cena pelo alto.


Procedência:

Pintado para a capela da família Guicciandini na Igreja de Santa Felicità, Florença. Foi para Uffizi em 14 de fevereiro de 1836 como resultado de um acordo entre a família Guicciandini e o museu. O museu trocou “Santi di Tito” pelo “The Adoration of the shepherds” de Honthorst.


Referencias:

. G.Richa, Notizie, IX, Part I, 1761, p.323f.;

. Série degli Nomini...., Florence, 1774, p.15;

. Firenze, Galleria degli Uffizi, 1922, p.91, no 772;

. Hoogewerff, 1924;

. M.I.Shcherbacheva, “Transactions of the State Hermitage”, (1956), 126, fig. 9 (escreve que o José é do mesmo tipo do José encontrado no “Hermitage Christ as a Child with St. Joseph and Two Angels” (Cat. Rais, no 27a, fig. 13 e Pedro em “Liberation of the St. Peter”, (Cat. Rais, no 59, fig. 10). Discute-se que a “Adoração” de Honthorst foi pintado entre 1618-20 e que tem maior conexão com Saraceni do que com Caravaggio).


Cópias:

. Venda em leilão em Amsterdam em 08 de junho de 1763, no 78, (45,9 x 106,6cm) [possivelmente uma cópia reduzida];

. Venda em leilão em Berlin, 29 de Marco de 1927, no 128, (89 x 64cm) [muito parecido com uma cópia reduzida];

. T.Gazzarini, “Thorwaldsen Museum”, Copenhague, no 82 (Gerson, 1942, p. 178, nota 2);

. Coleção F.T.Parker, Omaha, Nebraska, (142,2 x 83,8cm) [sabe-se que entrou na coleção em setembro de 1935].

Um grande numero de pinturas sobre esse tema tem aparecido em leilões, no entanto, é impossível estabelecer a autenticidade destes e por essa razão não são listados aqui.


Dados históricos da obra original

O embaixador de Roma, Piero Guicciardini, encomendou a Honthorst em 1619, uma pintura que ficaria no altar da capela da família na Igreja de Santa Felicità: a “Adoração dos Pastores”. Em 1836 essa pintura foi para o Museu de Uffizi. Na noite de 26 de maio de 1993, houve um atentado terrorista com carro bomba que explodiu muito próximo a uma janela que ficava também próxima à pintura. Graças à explosão, a pintura sofreu danos irreversíveis e grande perda pictórica. No entanto, a obra encontra-se hoje no Museu de Uffizi e a pintura danificada é exibida ao lado de uma projeção que mostra como a pintura era originalmente.



“The Adoration of the Shepherds” foi muito danificada pelo atentado terrorista.

O vídeo reconstrói a pintura para que o visitante tenha uma idéia

de como era o original.



Vendas de obras semelhantes e cópias em leilões:

a. Leilão da Christie’s em 07 de dezembro de 2010

Obra: Gerrit van Honthorst (Utrecht 1592-1656 Utrecht)

The Adoration of the Shepherds

Óleo sobre tela

(169.2 x 211.8 cm.)

Lance inicial: £1,105,250


b. Leilão descrito pela Artnet (www.artnet.com)

Obra: Atribuído a Gerrit van Honthorst (Utrecht 1592-1656 Utrecht)

The Adoration of the Shepherds

Óleo sobre tela

(364.5 x 206.5 cm.)

Lance inicial: vendido sob sigilo para colecionador.


c. Leilão descrito pela Artsy (www.artsy.net) na Leslie Hindman Auctioneers, Chicago

Obra: Atribuído a Gerrit van Honthorst (Utrecht 1592-1656 Utrecht)

The Adoration of the Shepherds

Óleo sobre tela

(109.2 x 64.8 cm.)


d. Leilão descrito pela Bonhams Kingtsbridge Auctioneers (www.bonhams.com)

Obra: Cópia do século XIX de obra de Gerrit van Honthorst (Utrecht 1592-1656 Utrecht)

The Adoration of the Shepherds

Óleo sobre tela de linho

Moldura Fiorentina do século XIX entalhada em madeira com douramento

(60 x 39 cm.)


3. PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS PROPOSTOS PARA ESTE ESTUDO

Sugeriu-se para este trabalho de investigação de composição de materiais, o seguinte procedimento:

1. Análise da pintura por luz no ultravioleta;

2. Análise por fluorescência de raios-X (FRX) ou espectroscopia no infravermelho para identificação e atribuição de datas prováveis dos pigmentos utilizados;

3. Análise Radiocarbonica (Carbono 14) para datação do suporte de tela da pintura;

4. Análise por microscopia do suporte de tela para definição de padrões de produção associada a data provável da mesma;

5. Estudo do suporte da pintura por radiografia de raios X para estudo de pigmentos, repinturas, características do suporte, etc.

6. Fotografias no infravermelho para identificação de desenhos ou pinturas subjacentes


4. PROCEDIMENTOS REALIZADOS

4.1. Análise por luz no ultravioleta

A pintura deverá ser visualizada por luz no ultravioleta para se identificar pontos de restaurações e repinturas afim de se evitar essas áreas para análises posteriores evitando assim, falsos resultados analíticos.


4.2. Fotografia no infravermelho










3.3. Por radiografia de raios-X (Radiografia)

As análises de radiografia de raios-X são largamente utilizadas em estudos de autenticidade de obras de arte. Isto porque é uma técnica de fácil aplicação e que fornece um grande numero de informações. Pode-se por exemplo ter informações a respeito do tipo de pigmentos que foram utilizados na pintura (orgânicos, inorgânicos, lacas, etc), e també a Possível procedência e época dos mesmos.

A análise por radiografia também pode indicar se a obra possui outras pinturas por baixo da camada pictórica superficial, desistências do artista, retoques de intervenções de restauração, etc.

As condições ajustadas para estas análises radiográficas foram de 20kV a 3mA. Foram tomadas várias chapas e escolhidas para discussão somente as mais elucidativas. Os resultados mostraram que grande parte da pintura ao que parece é composta por pigmentos a base de elementos metálicos que absorvem radiação de raios-X.

Detalhe de realização de análise de radiografia por raios-X


O fato de praticamente toda a pintura ser visualizada através da análise de radiografia, indica que os pigmentos utilizados na pintura provavelmente são todos de origem inorgânica o que sugere materiais antigos que condizem com a data suposta da pintura.















3.5. Fluorescência de raios-X (FRX)

Foram coletadas amostras de pigmentos para análise posterior por FRX para caracterização dos elementos que compõe a camada pictórica. A técnica utilizada foi a retirada da camada superficial das áreas amostradas com um “swab”embebido em solvente orgânico de maneira que retira-se parte dos pigmentos da área desejada. O mapa dos pontos amostrados é exposto abaixo:


Pontos de coleta de amostras para análise por FRX




Abaixo são mostradas tabelas (tabelas 2 a 4), para alguns pigmentos com a sua composição química elementar e as épocas históricas em que foram originadas. Dessa forma, fez-se a associação de pigmentos com os resultados obtidos da análise de FRX.





4. Conclusões parciais

Até o momento, as análises realizadas na pintura sobre tela supostamente atribuída a ao mestre holandês Gerrit Van Honthorst, não mostraram resultados inconsistentes que colocassem em dúvida o fato dessa obra ser antiga e possivelmente do século XV ou XVI. Análises de datação pela técnica radiocarbônica de Carbono 14 serão realizadas afim de se ter dados definitivos a respeito da data da obra.

Até o momento, as análises científicas realizadas, juntamente com a pesquisa histórica e de procedência, sugerem principalmente:


1. Trata-se de obra antiga possivelmente do século XVII ou XVIII. Essa hipótese deverá ser confirmada com a realização de análise radiocarbônica (carbono 14);

2. Na caracterização dos materiais até agora realizada, não houve nenhuma inconsistência de com a época atribuída à obra;

3. Ao que as evidências indicam, a obra pode ser uma cópia do século XVII ou XVIII ou poder ser uma obra do próprio GERRIT VAN HONTHORST, já que na época era comum artistas pintarem duas ou mais versões da mesma obra.

 
 
 

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