Breve histórico e usos do Paraloid B72
- ArtChimica
- 22 de dez. de 2017
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Fabricação de resinas acrílicas (Paralaoids) e seus usos
O Paraloid B72 é uma resina acrílica fabricada originalmente pela Rohm & Haas e é uma da série de mais de 40 resinas acrilóides homólogas. Cada uma com características e propriedades físico químicas diferentes.
Sua cadeia estrutural é composta de etil metacrilato (70%) e metil acrilato (30%), tornando-a uma resina de características translúcidas quando aplicada (índice de refração próxima a 1,4 que a aproxima de muitas resinas naturais nesse aspecto) e de resistência alta e também termoplástica (ou seja, pode sofrer deformações por temperatura por exemplo sem que sua estrutura entre em colapso).
Essas características entre outras tornou o uso do Paraloid B72 bastante comum em procedimentos de conservação e restauração a partir da década de 70. Comercialmente o Paraloid foi criado com multi-propósito como cobertura de proteção, consolidante e adesivo utilizado em áreas diversas desse a construção civil, indústria automobilística, etc, etc. Na sua concepção não foram levadas em conta preocupações com sua reversibilidade de aplicação já que o propósito seria de uma resina com excelente poder de cobertura, adesividade e transparência e que durasse o maior tempo possível e que fosse de difícil retirada.
Neste ponto já observamos um conflito da resina com seu uso em conservação e restauração já que queremos matérias que sejam reversíveis. E entenda-se por reversibilidade não só o fato da resina ser solúvel neste ou naquele solvente o que permitiria sua retirada de uma superfície onde foi aplicada, mas a sua retirada segura sem damos aos substratos que no nosso caso é o patrimônio histórico.
O Paraloid B72 é um material sólido. E para sua aplicação é necessário solubilizá-lo em algum solvente orgânico. Os normalmente utilizados para esse propósito são a acetona, etanol, tolueno e xileno.
Neste ponto mais um conflito: a sua aplicação em camadas pictóricas (normalmente como verniz ou consolidante), é temerária, não pelo Paraloid em si mas pelos solventes em que ele utiliza como veículo de aplicação. Assim, quando aplicamos o Paraloid a uma superfície pictórica, principalmente óleos e acrílicos, corremos o risco de solubilizar a própria pintura. O mesmo risco não ocorre em afrescos, aplicações em vidros, porcelanas ou metais.
O objetivo deste pequeno artigo é esclarecer um pouco o uso do Paraloid B72, seus benefícios e suas desvantagens que devem ser observadas e evitadas.
Propriedades químicas e físicas
O Paraloid B72 é solúvel principalmente em tolueno, xileno, acetona, tetracloreto de carbono e metil etil cetona. Os Paraloids fabricados a partir de 1976 passaram a ser solúveis em etanol e acetato de etila também.
Além da solubilidade outra característica importante a observar na utilização do Paraloid ou de qualquer outro polímero é a sua temperatura de transição vítrea (tg).
O que é Tg (transição vítrea)?
A temperatura de transição vítrea, a grosso modo, é a temperatura em que um polímero termoplástico geralmente, começa a perder a sua rigidez e começa a “escoar”. Como se fosse um vidro derretendo.
Assim, a temperatura de Tg do Pataloid B72 é de 40oC . Isso quer dizer que o Paraloid B72 acima dessa temperatura começa a ficar “grudento”. Quando a temperatura baixa a 25oC, por exemplo, ele volta a ficar “vítreo”.
Nesse caso, se aplicarmos uma camada de Paraloid B72 em uma escultura de bronze ao ar livre no Rio de Janeiro por exemplo, acontecerá o seguinte: em dias quentes, onde a superfície da escultura passará dos 40oC tranquilamente, a superfície se tornara grudenta e todo tipo de sujeira e fuligem se “colará”no Paraloid. Quando a temperatura voltar a 25oC por exemplo, a resina voltará ao estado vítreo e toda a sujeirada será “tragada” e indorporada à superfície.
Ao longo do tempo teremos então uma superfície que irá escurecendo lentamente.
A Solução para isso é muito simples: nesse caso da escultura, utilizar o Paraloid B44 que possui Tg em torno de 60oC. Ou seja, em dias quentes de verão carioca, a escultura e sua superfície tratada com Paraloid não sofrerão alterações significativas.
Como preparar o Paraloid B72
Para preparar 100ml de solução 20% (na base de peso/volume):
1. Selecionar o solvente desejado e colocar 100ml em recipiente de vidro;
2. Pesar 20g da resina Paraloid;
3. Colocar a resina em uma gaze e amarrar na forma de uma “trouxa”

4. Colocar a resina no solvente como se fosse um “saquinho de chá”;
5. Deixar solubilizando e checar e agitar a cada duas horas;
6. Quando a resina toda tiver solubilizado retirar a gaze e a solução está pronta para uso.
Aplicações
Como consolidante, adesivo e para preenchimento. Uso como verniz requer avaliação da superfície em que será aplicado. Pode ser aplicado como verniz de cobertura em murais de afrescos (com os devidos cuidados discutidos adiante) e em pinturas de cavalete a óleo há grandes riscos.
Para a aplicação do Paraloid B72 o solvente utilizado deve ser criteriosamente selecionado. Diferentes solventes em diferentes concentrações resultam em soluções com diferentes viscosidades. Assim, se desejamos que o Paraloid tenha boa penetrabilidade na superfície devemos optar por soluções menos viscosas, já para aplicação por exemplo em um mural de afresco, em que é desejado que a resina fique somente na superfície e não tenha penetrabilidade no substrato para não afetá-lo. Devemos optar por soluções mais viscosas. Alguns exemplos abaixo onde a solução em xileno seria a de maior viscosidade:
aprox. 200 mPas em acetona (40% solução a 25°C), aprox. 600 mPas em tolueno (40% solução a 25°C), aprox. 980 mPas em xileno (40% solução a 25°C)
As concentrações aplicadas devem ser as menores possíveis de forma que sejam eficientes sem saturar a superfície tratada de resina. As concentrações recomendadas estão na faixa de 10% a 20%.
Qual o brilho que se deseja para a superfície?
De modo geral vale a seguinte regra:
1. Para superfícies mais brilhantes utilize solventes de menor taxa de evaporação ou menos voláteis como xileno ou tolueno
2. Para superfícies de aspecto mais “fosco” utilize solventes de maior taxa de evaporação ou mais voláteis como acetona e tetracloreto de carbono.
Isso se deve ao fato que quando o solvente evapora muito rápido, não há tempo na superfície, para que o polímero (Paraloid) se “desenrole” de sua forma “enevolada” e se “estique” na superfície, o que resultaria em maior brilho. Da mesma forma, quando o solvente demora a se volatilizar, deixa tempo suficiente para que a resina de “desenrole” e forme uma superfície de aspecto mais brilhoso.
Exemplos de aplicações:
1. Pinturas murais
Para consolidação e cobertura de pinturas murais e afrescos, solução de 5% de Paraloid B72 em tolueno e isopropanol 1:1. Aplicado com pincel ou spary. Aplicar camadas até obter aspecto desejado. Deixar na superfície da camada da pintura pequenas “janelas” sem aplicação (de 1x1 cm), para que haja um “escape” de umidade natural que se represada, poderia ocasionar até a queda da camada pictórica por causa do efeito impermeabilizante do Paraloid>
2. Madeira
Para consolidação da madeira, soluções de 5 a 10% de tolueno. Para penetrabilidade lente e para atingir camadas mais profundas, usar tolueno e xileno 1:1
3. Vidros e cerâmica
Como adesivos de vidros e cerâmicas, soluções em acetona e etanol para secagem rápida. Para estes casos usar soluções de até 40% de Paraloid B72 e usar até 10% de xileno para aumentar a viscosidade da solução.
Conclusões
Procurar utilizar sempre o Paraloid certo para cada caso. No caso de obras externas como esculturas em cidades quentes como o Rio de Janeiro, utilizar Paraloid B44. Para obras internas em museus por exemplo, usar Paraloid B72.
Avaliar qual solvente e viscosidade devem ser utilizados em cada caso.
Avaliar o uso do Paraloid pois embora seja uma resina solúvel em solventes orgânicos então teoricamente reversível, a sua retirada pode causar sérios danos à obra em que foi aplicada.
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